Acesso a conteúdo Violento: entretenimento infantojuvenil ou perigo para o desenvolvimento emocional?

25 nov 2021

Muitos são os conteúdos de entretenimento infantojuvenis que têm como foco, em seu enredo, temáticas envolvendo a violência e/ou a agressividade. Dentre esses é possível citar: mangás, desenhos animados, jogos de videogame, filmes, músicas, entre outros. Vários desses materiais possuem, inclusive, indicações permitidas a tais faixas etárias. Em outros casos, algumas crianças e jovens acabam acessando estes conteúdos restritos por permissão ou falta de fiscalização dos pais.

É certo que com a facilidade de acesso ao amplo universo da internet, a falta de fiscalização representa um grande desafio à educação de crianças e adolescentes na atualidade. Mas quais são, de fato, as consequências relacionadas ao consumo dessas temáticas?

Ao longo do desenvolvimento emocional, a imaginação e a fantasia têm papel fundamental. Por meio da criação de imagens mentais, símbolos e/ou identificação com personagens, as crianças e jovens são capazes de acessar sentimentos difíceis atrelados a temas da vida real que costumam ser abordados nos diversos temas dos entretenimentos já citados. De forma a atenuar o medo, a angústia, a raiva, a violência, a impotência, a dor da perda, a separação, a crueldade, a traição, entre outros, a fantasia permite justamente um maior controle sobre as situações que incitam esses sentimentos hostis e dolorosos. Também é por meio da imaginação que os indivíduos podem fantasiar, ter recursos potentes para o enfrentamento das adversidades, tais como superpoderes, autoridade, força emocional, prestígio,
controle, manipulação dos outros. Isto é normal, saudável e faz parte do desenvolvimento, bem como facilita e torna prazeroso a imersão a um universo fictício. Porém, o grande desafio da infância e boa parte da adolescência é a distinção entre fantasia e realidade. Por isso, um olhar atento, afetivo, acolhedor, pautado no diálogo contínuo, na confiança, na autoridade parental, no acompanhamento, interesse e orientação contínua dos pais é condição fundamental para garantir essa distinção.

A agressividade humana tem função de defesa contra perigos e ataques recebidos, na sustentação de processos decisórios e na necessidade de impor limite aos outros e, portanto, é um comportamento necessário quando na medida certa. Em situações de vulnerabilidade o ser humano pode apresentar atitudes de fuga, paralisia ou ataque, sendo esse último relacionado à agressividade. O que predominará
enquanto reação vai depender da natureza e do temperamento de cada um, das condições de afeto, cuidado e carinho recebidos do meio, dos estímulos do ambiente, da resiliência e dos recursos de enfrentamento e da preservação da saúde mental.

Desequilíbrios emocionais e comportamentais são mais comuns em crianças e jovens em processo de formação da cognição e da personalidade, o que os deixa mais predispostos a atitudes de desregulação emocional, podendo gerar comportamentos de agressividade, por vezes até desmedida, contra a si mesmos ou contra os outros quando diante de sentimentos de frustração, carência afetiva, rejeição, abandono e sensação de incapacidade. Como resultado de experiências negativas, também é mais comum as distorções de pensamentos, tais como negativismo, sensação de tudo ou nada, generalizações e pensamento limitado por uma visão em túnel, sendo isto capaz de gerar, como consequência, atitudes agressivas que podem levar à transgressão dos direitos de outras pessoas.

Cuidadores responsáveis precisam, portanto, interessar-se em monitorar o acesso ao entretenimento violento, impor regras e limites, controlar a frequência de consumo, observar se estes interesses predominam ou estão restritos aos temas, se a criança ou jovem isola-se ou se muda de comportamento. O descaso frente a isso é negligência de atenção às necessidades emocionais básicas e pode trazer prejuízos para a formação do caráter e da personalidade, bem como para as condições de desenvolvimento de saúde mental. É importante lembrar que tudo que é exagerado
tende a ser prejudicial.

Marjorie Thibes Ruiz
(Psicóloga e Neuropsicóloga Clínica e Escolar)